quinta-feira, 9 de abril de 2009

9 maneiras de ser um professor mais eficiente

Texto: Brasílio Neto - Revista Profissão Mestre
1. SÃO OS ALUNOS QUE IMPORTAM - Alguns professores sentem-se extremamente orgulhosos de seus cargos. E dá até para entender a razão. Afinal, são anos e anos de pesquisas e estudos para estar ali, naquela sala de aula. E agora aqueles alunos seriam os sortudos que iriam beber da sabedoria dele por todo ano letivo. Aqueles que pensam assim estão construindo uma imensa barreira entre eles, os estudantes e o aprendizado. Os melhores mestres vêem a si mesmos como guias. Eles compartilham o que sabem, porém entendem que eles não são o foco principal daquela sala de aula. Seus discípulos o são. Não se deve perguntar "o que eu vou fazer hoje", mas sim "o que eu espero que meus alunos façam/aprendam hoje". O planejamento do dia fica muito mais fácil.
2. ESTUDE OS ESTUDANTES - Imagine um professor entrando em sala de aula dizendo: - Bom, abra seu livro na página... na página que vocês encontrarem essa matéria. Nada pior para a imagem, não é mesmo? Se é importante conhecer o material didático, imagine entender seus alunos. Que, ao contrário dos livros, não são feitos em série. Cada um possui uma particularidade, algo que o faz único. É fácil imaginar que é complicado descobrir o que cada um deseja, o que motiva seus estudantes. Mas faça uma analogia. Imagine que um amigo que mora longe lhe telefona. Ele diz que está em sua cidade e quer fazer-lhe uma visita, como se chega em sua escola? Qual a pergunta que você faz nessa situação? - Você está perto do quê/em que rua? Logo em seguida, pergunta se ele está a pé ou de carro. A partir daí, pode indicar o caminho certo para se encontrarem. Da mesma forma, seus alunos. Se você quer que eles tenham aprendido alguma coisa no final do ano, primeiro descubra onde estão, quais os recursos que possuem.
3. SE VOCÊ QUER QUE ELES SE ARRISQUEM, OFEREÇA SEGURANÇA - Parece estranho, mas aprender pode ser uma atividade desconfortável. Os discentes têm que descobrir o que eles não sabem, jogar fora muito daquilo que eles achavam que sabiam. Por isso, crie um ambiente de segurança. Iluminação e cores corretas ajudam, além de diversos outros detalhes ao alcance do professor: A - Decore as paredes com os trabalhos dos alunos, ou fale sempre nos exemplos e nos casos que eles trazem para sala. A idéia é fazer com que a sala de aula seja um lugar que pertença a eles, alunos.B - Da mesma maneira, crie um pequeno ritual para início de aula. Pode ser algo simples, como entrar e dar bom dia de determinada maneira, ir até um ponto da sala e sorrir. Com isso, os alunos percebem, inconscientemente, que eles estão em terreno conhecido e que não há o que temer.
4. VULNERABILIDADE NÃO COMPROMETE A CREDIBILIDADEUm professor não precisa ter todas as respostas. Se você disser "eu não sei", isso não significa que sua classe vai acreditar menos em você. Ao contrário, seus alunos irão admirá-lo ainda mais.
5. REPITA OS PONTOS IMPORTANTESO norte-americano William H. Rastetter foi professor da Universidade de Harvard antes de ser chamado para dirigir uma grande empresa. Ele passa uma regra para seus colegas: "A primeira vez que você diz alguma coisa, as pessoas escutam. Se você fala uma segunda vez, as pessoas reconhecem aquilo; e se você fala uma terceira vez, elas aprendem." O desafio é fazer isso de forma que você não se torne chato ou repetitivo. Mude as palavras, passe conceitos através de exercícios e experiências. Use sua criatividade.
6. BONS PROFESSORES FAZEM BOAS PERGUNTASFazer perguntas que se respondam com "certo" ou "errado" não estimula uma boa discussão em sala de aula. Procure fazer perguntas abertas. Por que isso funciona assim? Qual a razão dessa reação/atitude? E se fizéssemos de outra maneira?
7. ESCUTE MAIS DO QUE FALAAo lecionar, aquilo que você faz é tão importante quanto aquilo que você diz. E escutar o que seus alunos têm a dizer significa que você se importa com eles, que leva em consideração as idéias da classe. Permita momentos de silêncio em sala de aula, eles significam que o conhecimento está sendo processado. E lembre-se, nem sempre seus alunos se comunicam por palavras. Fique atento aos sinais não escritos, como olhares, movimentos, entre outros.
8. PERMITA QUE OS ALUNOS ENSINEM ENTRE SIVocê não é a única fonte de conhecimento disponível a seus alunos. Eles também aprendem entre si. Uma turma de alunos funciona como um triângulo de aprendizado, no qual o professor é apenas um vértice. Use essa força a seu favor. Dê a seus alunos pequenos textos, e peça que eles o interpretem entre si para responder uma questão. Naturalmente eles escutam mais uns aos outros para encontrar a solução mais adequada.
9. PAIXÃO E PROPÓSITOO que faz a diferença entre um bom professor e um excelente professor não está nos cursos feitos. Não aparece nas teses defendidas nem nas pesquisas feitas. Independe dos anos de profissão. É a paixão pelo lecionar, por estar ali, todos os dias. É algo que contagia os estudantes e que não pode ser fingido.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Como estudar Física

Existem, basicamente, três tipos de alunos para a Física:
- aqueles que não cultivam nenhuma admiração, no entanto, precisam estudar para a prova;
- aqueles que embora não pretendam seguir uma carreira de Exatas, cultivam uma simpatia acima da média;
- e, por fim, aqueles que realmente pretendem seguir carreira na Física ou em área a ela relacionada.
Cada um destes três grupos possui características que lhe são bem peculiares, necessitando de métodos específicos para os objetivos a serem atingidos. Não é à-toa que existem cursinhos específicos de alta qualidade que simplesmente fazem um estrondoso sucesso.Vamos , porém, procurar, de forma generalizada, citar alguns conselhos indispensáveis para quem quer ou precisa estudar Física. Condições básicas como um bom lugar para estudo, boa alimentação, qualidade de vida e local adequado, vamos considerar que já sejam supridas.Vamos ao assunto, enumerando (na medida do possível) os itens:
1 - Faz-se necessário que se tenha uma boa bibliografia para consulta. Consultar o mesmo assunto segundo explicações diferentes habilita-nos a visualizá-lo de diferentes formas. Duas situações podem ocorrer: você conseguirá esclarecer pontos ainda duvidosos e (ou) reforçar conceitos já assimilados, abrindo a porta para que seu cérebro possa assimilar o conteúdo da forma mais simples possível;
2 - Em sala de aula ou mesmo como auto-ditadata é muito válido que se tome notas e resumos sobre assuntos que se julguem necessários. Estas notas podem ser para que não venhamos nos esquecer sobre algum conceito ou, ainda, para que futuramente possamos esclarecer ou explorar melhor algum ponto que possa ser melhor compreendido;
3 - Estudar com regularidade em horários e cargas previamente definidos. Desta forma evita-se o acúmulo de dúvidas bem como se permite que entremos em intimidade com o assunto que passará a ser visto com maior familiaridade, facilitando a abstração do conteúdo;
4 - Boa base matemática. A Física é explicada quase sempre através de fórmulas matemáticas. As equações (sistemas de equações) em especial são sempre exploradas desde o início do estudo em Cinemática, por exemplo. Suponhamos que você queira saber os instante do encontro de dois móveis que se movimentem em sentido contrário numa mesma estrada. De nada adianta conhecer os conceitos se você não compreender que se deve igualar (resolver) as respectivas equações do movimento;
5 - Entender que a Física possui determinados tópicos, os quais devem ser estudados em seus diferentes capítulos na seqüência mais lógica possível, objetivando facilitar a compreensão e o desenrolar do conteúdo de forma mais natural. O crescimento da complexidade do assunto (dentro do tópico) ficará muito mais fácil de ser assimilado. Perceba que com conceitos básicos de movimento uniforme se torna muito mais fácil a compreensão do movimento uniformemente variado e com este se torna simples estudar lançamento de projéteis, no entanto, se quiséssemos aplicar a ordem inversa no aprendizado a assimilação dos conteúdos ficaria muito mais difícil;
6 - Resolver exercícios com frequência para colocar à prova a parte teórica. Além de servir para a fixação do conteúdo estudado, durante a resolução de problemas podemos diagnosticar falhas no aprendizado e ampliar o conhecimento através do esforço e criatividade mental. Resolver de forma correta um exercício é consequência de muita prática e disto trataremos em outro post;
7 - Ter consciência de que nossa mente funciona como um poderoso banco de dados e sempre que uma situação-problema nos é apresentada ela procura um modelo que possa ser comparado e sirva como base para a resolução. Por isto procure abstrair o maior número de “Exercícios Modelos”, certamente eles serão a “luz no fim do túnel” quando você se deparar com aquelas questões escabrosas da Física;
8 - Estar ciente de que, em geral, ciências exatas, em especial a Física, requerem persistência e muita força de vontade. Ter objetivos e metas a serem atingidos fazem do estudo uma verdadeira aventura.
Lembre-se: O desafio de aprender nunca se acaba!Existem pessoas que estudam em silêncio, outras com música... Sentados ou em pé. O mais importante é que seja uma condição que lhe propicie um equacionamento entre conforto físico e mental. É altamente recomendável que você estude em condições que lhe permitam o melhor estado de concentração possível.
Existe muito mais a ser dito sobre como estudar, em especial a Física, no entanto, as bases são estas.
Sucesso!!!

Nova pista na busca pela matéria escura

Partículas de alta energia detectadas em raios cósmicos podem vir desse componente do universo.
Dados recentes acrescentam mais uma peça ao quebra-cabeça da existência da matéria escura, substância invisível responsável pela maior parte da massa do universo. Uma colaboração internacional detectou em raios cósmicos que chegam à Terra um inesperado excesso de um tipo de partícula com alta energia, que poderia ser resultado da destruição desse componente ainda desconhecido.
Os raios cósmicos são partículas atômicas extremamente penetrantes que se deslocam no espaço a velocidades próximas à da luz. Em seu trajeto, essas partículas se chocam com átomos do meio interestelar e dão origem a novas partículas e a antipartículas (corpos simétricos às partículas elementares da matéria, porém com carga elétrica oposta, que constituem a chamada antimatéria). Segundo modelos físicos padrões, as antipartículas compõem apenas uma pequena fração dos raios cósmicos que atingem a Terra. Por serem produzidas a grande distância (no meio interestelar), elas perdem energia ao longo do caminho e não têm força suficiente para chegar ao nosso planeta. Logo, quanto mais alta a energia de um raio cósmico, menor deve ser a quantidade de antipartículas encontradas. Esse preceito, no entanto, foi desafiado por dados coletados pelo detector de partículas Pamela entre julho de 2006 e fevereiro de 2008 e publicados esta semana na revista Nature. Pesquisadores da Itália, Rússia, Suécia e Alemanha analisaram raios cósmicos com energia entre 1,5 GeV (sigla para gigaeletronvolt, medida de energia equivalente a 10 9 eletronvolts) e 100 GeV e detectaram um grande e surpreendente crescimento do número de pósitrons (a antipartícula do elétron) nas faixas de energia mais altas. “Os dados do Pamela mostram claramente que a fração de pósitrons aumenta significativamente com a energia”, dizem os cientistas no artigo que descreve os resultados. Esse excesso de pósitrons também foi observado por outros grupos em experimentos estatisticamente limitados com raios cósmicos de faixas de energia mais altas. Segundo a física de partículas Renata Zukanovich, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (USP), as medições anteriores têm alta taxa de incerteza. “Os resultados do Pamela têm margem de erro muito pequena, mesmo levando em conta o grau de imprecisão do experimento”, ressalta. Fonte misteriosa de antipartículas Mas qual seria a explicação desse resultado surpreendente? Para os pesquisadores, o excesso de pósitrons só pode ser justificado pela existência de uma outra fonte de antipartículas que não seja a interação dos raios cósmicos com átomos do meio interestelar. Um dos candidatos a preencher esse posto – e o que desperta maior agitação na comunidade científica – é a misteriosa matéria escura presente em nossa galáxia. Embora nunca tenha sido detectada diretamente, a existência da matéria escura no universo pode ser deduzida de seus efeitos sobre a matéria visível. Quando duas partículas de matéria escura se encontram, elas podem se aniquilar e produzir, assim, diversas partículas subatômicas, como os pósitrons.
Há ainda uma segunda hipótese para o excesso de pósitrons dos raios cósmicos: sua emissão por objetos astrofísicos como pulsares (estrelas de nêutrons muito pequenas e densas) ou microquasares (réplicas em pequena escala dos quasares, que se acredita serem centros de galáxias ativados por buracos negros). Mas esses objetos teriam que estar localizados próximos da Terra, para que as antipartículas não perdessem sua energia durante a propagação no espaço. Por enquanto, os registros do Pamela são insuficientes para determinar qual seria a fonte das antipartículas. Mas o experimento continuará fazendo medições para analisar raios cósmicos de uma faixa de energia mais alta. Esses dados, combinados com as medições já divulgadas, permitiriam distinguir entre a emissão de antipartículas pela destruição da matéria escura ou por objetos astrofísicos como pulsares. “Na melhor das hipóteses, os resultados do Pamela serão um sinal inequívoco de matéria escura”, comenta Zukanovich. “E, mesmo que essa hipótese não se confirme, os dados são importantes e devem gerar novas pesquisas, porque não se conhece qualquer objeto astrofísico nas proximidades da Terra que emita pósitrons com essa abundância.” Segundo o físico teórico Rogério Rosenfeld, do Instituto de Física Teórica da Universidade Estadual Paulista (Unesp), as medições do Pamela, se interpretadas como indício de aniquilação de partículas de matéria escura, têm grandes implicações para o estudo desse componente do universo. Rosenfeld conta que o modelo mais bem desenvolvido teoricamente sobre a composição da matéria escura – chamado de teoria da supersimetria – tem sérias dificuldades para explicar os novos dados. “Um dos problemas é o número de pósitrons detectados, que requer uma probabilidade de aniquilação maior do que a prevista pelo modelo”, diz. “Desde que os resultados do Pamela foram anunciados à comunidade científica, em outubro de 2008, dezenas de novos modelos de matéria escura foram propostos para explicá-los.” A resposta para todo esse enigma talvez venha à tona quando o maior acelerador de partículas do mundo – o LHC (sigla em inglês para Grande Colidor de Hádrons) – entrar efetivamente em funcionamento. Se esse dispositivo for capaz de produzir partículas de matéria escura – como se espera –, será possível elaborar um modelo teórico para o comportamento dessas partículas na faixa de energia analisada pelo Pamela e, assim, comprovar a origem do excesso de antipartículas nos raios cósmicos.

Texto: Thaís Fernandes Ciência Hoje On-line 02/04/2009

Evolucionismo e criacionismo no século 21

Credibilidade da teoria da evolução biológica é baixa entre universitários brasileiros, mostra artigo
Embora o evolucionismo darwiniano, que está completando 150 anos, seja tido como uma das mais relevantes teorias da história da ciência, organizações de cunho religioso vêm tentando incluir no currículo escolar a concepção criacionista – descrita na Bíblia – da origem da Terra e da vida. Esse movimento está presente em vários países, inclusive no Brasil, onde, mesmo entre estudantes universitários, a credibilidade da teoria da evolução biológica, e mesmo de outras realizações científicas, ainda é baixa. Foi o que revelou uma pesquisa realizada com alunos da Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. A ideia da evolução biológica provocou uma mudança radical na maneira como enxergamos a natureza e a nós mesmos. Após o surgimento dessa ideia, a semelhança entre espécies distintas passou a ser explicada pelo fato de compartilharem ancestrais em comum. Da mesma forma, a diversidade genética dentro de uma espécie deixou de ser vista como um ‘defeito de fabricação’, tornando-se a matéria-prima da evolução. E, sobretudo, a evolução de caracteres adaptativos – desde a melanina que determina a cor da nossa pele até a visão aguçada de uma águia – começou a ser interpretada como fruto da sobrevivência e da reprodução diferencial de indivíduos geneticamente distintos. Entretanto, no momento em que se comemoram os 150 anos da publicação do livro A origem das espécies, do naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882), um dos autores da teoria da evolução das espécies pela seleção natural, o debate criacionismo versus evolucionismo parece não ter arrefecido. Na verdade, em diferentes países (em especial os EUA), um movimento de cunho fortemente religioso tem, nos últimos anos, tentado impor ao sistema público de ensino uma visão religiosa da origem e evolução da vida. De modo simplificado, podemos dizer que esse movimento criacionista envolve grupos religiosos radicais que rejeitam a teoria da evolução biológica em favor de um criador sobrenatural, tendo a Bíblia como única fonte de indícios para explicar essa concepção. Entretanto, é preciso destacar que a rejeição à evolução biológica pode partir de grupos que não têm, necessariamente, uma base cristã – como o Hare Krishna. Nesse cenário, destaca-se o papel de algumas organizações criacionistas norte-americanas, como o Instituto para a Pesquisa da Criação (The Institute for Creation Research – ICR) e o Centro para Ciências e Cultura do Instituto Discovery (Discovery Institute’s Center for Science and Culture). Essas instituições pronunciam-se de forma mais incisiva, muitas vezes trazendo à mídia questões polêmicas, como a de que a evolução é uma teoria em crise inclusive na comunidade científica, ou a de que ela carece de provas experimentais, ou a de que os próprios evolucionistas não chegam a um consenso sobre a evolução. Por esse caminho ardiloso, tentam justificar o ensino de outras teorias, além da evolução biológica, como forma de incentivar o debate e o senso crítico dos alunos. Com essa estratégia, os criacionistas têm conseguido avanços significativos dentro do sistema público de ensino em alguns estados daquele país. Formação inadequada e desconhecimento da lei Esse sucesso pode ser creditado, ao menos em parte, a alguns fatores intimamente relacionados. Um deles é a formação insuficiente ou inadequada de muitos professores a respeito da teoria evolutiva (muitos não compreendem o que significa ‘teoria científica’, ou seja, não sabem como a ciência é feita). Outro é o desconhecimento das questões legais referentes ao ensino do criacionismo nas escolas públicas dos Estados Unidos (os professores tornam-se, assim, vulneráveis às pressões de pais, estudantes, diretores de escolas e comitês de ensino). Por fim, e não menos importante, as próprias convicções religiosas de alguns professores os levam a ser criacionistas. Seguindo essa estratégia e liderados pelo professor de direito Philip Johnson, da Universidade de Berkeley, os criacionistas norte-americanos fundaram, no início dos anos 1990, um movimento denominado Desenho Inteligente (ID, de Intelligent Design). O principal objetivo desse movimento é dar uma roupagem científica a seus argumentos, para transformar o criacionismo em uma teoria respeitável e, de preferência, no meio desse processo, desacreditar a teoria da evolução. Eles esperam, desse modo, criar um sentimento geral de que o criacionismo merece o mesmo tratamento do evolucionismo, inclusive no sistema público de ensino. Pode-se dizer que o maior êxito dos criacionistas norte-americanos não tem sido obtido dentro dos Estados Unidos, mas sim na repercussão do movimento mundo afora, influenciando outros países, inclusive o Brasil. Uma pesquisa realizada em 34 países e publicada em agosto de 2006 pela revista cientifica Science mostra que, na Islândia, na Dinamarca, na Suécia e na França, mais de 80% dos adultos aceitam como verdadeira a teoria da evolução, percentual que fica em 78% no Japão. Nos Estados Unidos, porém, somente cerca de 40% dos adultos acham essa teoria válida – os outros 60% não têm certeza sobre sua veracidade ou acreditam que é falsa. Já em países como Turquia, Bulgária, Grécia, Romênia, Áustria, Polônia, Suíça e outros, mais de 40% da população acham que a teoria da evolução é falsa ou não têm certeza sobre sua validade. O debate criacionismo/evolução, portanto, é complexo e parece estar longe de um fim. A discussão, porém, é absolutamente necessária, já que pode determinar o futuro educacional de nossa própria sociedade.
Texto:
Rogério F. de Souza Marcelo de Carvalho Departamento de Biologia Geral, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina (UEL)
Tiemi Matsuo Departamento de Estatística e Matemática Aplicada, Centro de Ciências Exatas, UEL
Dimas A. M. Zaia Departamento de Química (Laboratório de Química Prebiótica), Centro de Ciências Exatas, UEL

O Brasil visto por Darwin

Historiador da ciência resgata passagem do naturalista pelo Rio e pelo Nordeste nos anos 1830
A efeméride é a ocasião de relembrar a passagem dos dois naturalistas pelo Brasil e a contribuição das observações feitas por ambos em nosso país para a formulação da teoria que mudou a biologia. A passagem de Darwin pelo Brasil foi o foco da conferência do físico e historiador da ciência Ildeu de Castro Moreira na reunião anual da SBPC. Moreira, que dirige o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia, está tentando reconstituir os diferentes passos da passagem do naturalista inglês pelo país e está envolvido na organização de vários eventos comemorativos dos 150 anos da teoria da seleção natural. Darwin passou pelo Brasil a bordo do Beagle, navio encarregado de dar a volta ao mundo fazendo medições importantes para a marinha britânica. Recém-formado, aos 24 anos, Darwin era o naturalista de bordo, incumbido de fazer observações geológicas e biológicas durante a expedição. Na viagem, que durou quase cinco anos, o inglês coletou material e fez observações que, mais tarde, o colocariam na trilha da seleção natural. Algumas das primeiras escalas do Beagle foram feitas na costa brasileira, em Fernando de Noronha, Salvador, Abrolhos e no Rio de Janeiro, onde Darwin passou quatro meses. “Darwin ficou hospedado em Botafogo, que era então um bairro nobre e tranqüilo, onde nobres e embaixadores tinham sítios”, conta Moreira. “Estamos tentando identificar a localização exata da casa em que ele ficou, provavelmente na atual rua São Clemente.” Em 1836, após completar a circunavegação, o Beagle fez novas escalas no Brasil, em Salvador e Recife, em seu caminho rumo à Inglaterra. A deslumbrante natureza foi o que mais chamou a atenção de Darwin em sua passagem pelo Brasil. Seu diário de bordo e as notas de viagem reunidas anos mais tarde em livro (A viagem do Beagle, disponível em português) refletem o encanto do jovem inglês com a luxuriante paisagem tropical. “Delícia é um termo fraco para exprimir os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, se viu perambulando por uma floresta brasileira”, escreveu Darwin sobre sua passagem por Salvador. Seu relato é repleto de adjetivos deslumbrados que exaltavam “a exuberância geral da vegetação”, “a elegância da grama”, “a beleza das flores” ou “o verde lustroso da folhagem”. Humanismo e preconceito
As notas de viagem de Darwin refletem também sua visão sobre a sociedade brasileira. Em várias passagens, elas manifestam o humanismo do naturalista, que recrimina reiteradas vezes a escravidão contemplada por ele no país. Mas Ildeu Moreira lembra também que as observações do inglês denotam certo preconceito em algumas passagens. Sua impaciência com a burocracia brasileira, por exemplo, ou sua decepção com os modos rudes com que foi tratado por certos habitantes locais motivaram comentários pouco simpáticos à população brasileira em suas anotações. “Darwin fez algumas generalizações sobre os brasileiros e às vezes julgava as pessoas pela sua aparência ou pela forma como se vestiam”, diz Moreira. O historiador da ciência chama a atenção também para outro aspecto interessante que se sobressai das anotações feitas por Darwin em sua passagem pelo Brasil. Esses relatos mostram como o inglês foi ajudado por habitantes locais em suas incursões pela mata e nas expedições para coleta de material biológico. Moreira lembra que esses guias, geralmente omitidos nos relatos científicos dos naturalistas, aparecem mais claramente nos relatos de viagem, escritos em estilo mais solto. “Os índios, escravos e crianças que ajudavam os naturalistas do século 19 tinham um conhecimento que, depois de catalogado e registrado, foi incorporado ao acervo da ciência mundial”, afirma Moreira. “Isso não representa um demérito para esses cientistas, mas nada teria sido feito sem a ajuda desses guias. Não podemos perder a perspectiva de que a ciência dependia do conhecimento das populações nativas.”

Bernardo Esteves
Ciência Hoje On-line 16/07/2008

Na trilha de Darwin

Expedição refaz trajeto percorrido pelo naturalista inglês no Rio de Janeiro em 1832

Mais de 170 anos depois, a história da passagem de Charles Darwin (1809-1882) pelo Rio de Janeiro está sendo resgatada. Uma expedição acaba de refazer o trajeto percorrido pelo naturalista inglês da capital em direção ao norte do estado, onde ele teve seu primeiro contato com a incrível diversidade da floresta tropical e viu de perto as condições de vida dos escravos. As observações feitas pelo cientista na viagem contribuíram para a elaboração, anos mais tarde, da teoria da evolução pela seleção natural.
Durante todo o percurso, Darwin esteve bem representado: seu tataraneto, o escritor e conservacionista Randal Keynes, veio de Londres especialmente para a expedição. Keynes pôde ver o que restou da paisagem descrita por Darwin no século 19, conhecer os locais onde ele se hospedou – alguns ainda preservados –, provar comidas típicas da época e encontrar descendentes daqueles que viviam na região quando seu tataravô passou por lá. “Quando Darwin deixou o Brasil, ele sabia que provavelmente nunca mais voltaria. Sinto agora que posso dar a ele essa experiência novamente”, disse Keynes. A expedição Caminhos de Darwin partiu do Jardim Botânico do Rio de Janeiro no dia 26 de novembro. De lá, o grupo de cerca de 50 pessoas, formado por pesquisadores, professores, estudantes, jornalistas e divulgadores de ciência, passou por outros 11 municípios em quatro dias: Maricá, Saquarema, Araruama, São Pedro d’Aldeia, Cabo Frio, Barra de São João, Macaé, Conceição de Macabu, Rio Bonito, Itaboraí e Niterói. Essas cidades localizam-se hoje no caminho percorrido a cavalo por Darwin durante 18 dias em 1832. Roteiro turístico e científico Em cada município visitado pela expedição, foi inaugurada uma placa comemorativa que mostra o mapa do estado com o trajeto de Darwin e anotações dele sobre o lugar. A leitura de trechos do diário do naturalista, feita pelo ator Carlos Palma caracterizado como Darwin, remetia o público ao século 19. A intenção dos organizadores é criar um roteiro turístico, cultural, educacional e científico, que possa ajudar as pessoas a aprender mais sobre Darwin, a teoria da evolução e a história do Brasil, ressaltando a importância da preservação do patrimônio histórico e natural da região. Para mostrar o lugar privilegiado ocupado pela geologia nas observações de Darwin, foi organizada uma exposição – montada a cada parada da expedição – com rochas de todos os lugares por onde o naturalista passou, algumas delas descritas por ele. “Estamos contando a história da nossa terra, da nossa comunidade. É importante mostrar que contribuímos para um capítulo importante da história mundial”, ressaltou Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Difusão e Popularização da Ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia e um dos coordenadores da expedição. Mobilização popular No percurso, era possível perceber o engajamento da comunidade e das escolas no projeto. Os alunos se caracterizaram como Darwin e sua esposa, Emma, e apresentaram trabalhos e esquetes teatrais sobre o tema, entre outras manifestações culturais. Em vários momentos, a comitiva foi escoltada, seja por policiais, tropeiros e até motociclistas. “A expedição foi um sucesso em todos os sentidos; mas o mais importante foi o que ficou em cada comunidade”, avaliou Moreira.
Muito simpático, o tataraneto de Darwin foi tratado como celebridade e, incansável, tirou dezenas de fotos e deu vários autógrafos. Keynes ressaltou a importância do projeto Caminhos de Darwin para fortalecer a educação científica dos jovens e a preservação da natureza. Ele lembrou que Darwin considerava a educação a única forma de tornar as pessoas livres. E completou: “O ensino fora da sala de aula foi especialmente importante para Darwin. Ele nunca ficou preso em um laboratório. Seu laboratório foi o mundo vivo.” A figura de Darwin mostrada durante a expedição não foi apenas a do cientista que manteve sua curiosidade infantil e observava com atenção a diversidade de plantas e animais da floresta. Seu lado humanista também foi bastante lembrado. “Na escola, estudamos a teoria da evolução; aqui, descobrimos que há um Darwin preocupado com a questão social, com a escravidão e a educação”, afirmou Adryane Reis, aluna da Escola Sesc de Ensino Médio que acompanhou a expedição. Keynes espera que a experiência brasileira inspire a realização de expedições como essa nos outros países por onde Darwin passou durante sua viagem ao redor do mundo a bordo do navio Beagle. “Gostaria que outras pessoas tivessem a oportunidade de conhecer o trabalho de Darwin vivendo o que ele viveu.”

Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line 02/12/2008