quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A "linguagem essencial" da ciência

Autor: Henrique Fleming
Em seu famoso livro Il Saggiatore , diz o grande Galilei:
La filosofia è scritta in questo grandissimo libro che continuamente ci sta aperto innanzi a gli occhi (io dico l'universo), ma non si può intendere se prima non si impara a intender la lingua, e conoscer i caratteri, ne' quali è scritto. Egli è scritto in lingua matematica, e i caratteri sono triangoli, cerchi, ed altre figure geometriche, senza i quali mezzi è impossibile a interderne umanamente parola; senza questi è um aggirarsi vanamente per un' oscuro laberinto.

É um risco traduzir Galileu: se, por um lado, ele é meridianamente claro, por outro lado, seu italiano é de tal beleza que se tornou um dos grandes clássicos da língua. É como se Camões tivesse escrito um tratado de física: quem teria a coragem de tentar traduzí-lo a outra língua? Isto posto, corro este risco, e ofereço a minha pobre tradução.
"A filosofia (isto é, a ciência) está escrita neste grandíssimo livro que, continuamente, está aberto diante de nossos olhos (eu quero dizer o universo), mas que não se pode entender se não se aprende a entender a língua, e a conhecer os caracteres, os quais está escrito. Ele é scrito em língua matemática, e os caracteres são triângulos, círculos, e outras figuras geométricas, sem cujos meios é humanamente impossível entender uma só palavra; sem esses é um vão caminhar por um obscuro labirinto".
Neste texto Galileu não defende uma primazia da física teórico-matemática sobre a física experimental. Não faria sentido: ele foi um dos maiores físicos experimentais de todos os tempos, e baseava todas as suas argumentações em sólidas experiências. O inimigo era outro: o uso impreciso e figurado da linguagem comum naqueles tempos, herdado da filosofia medieval, bem como as interpretações da natureza baseadas na linguagem poética, alegórica, da Bíblia.
Muitos séculos depois, outro grande escritor italiano, Primo Levi, maravilhou-se quando, estudante recém-ingressado no Instituto de Química da Universidade de Turim, ouviu o professor expressar-se em uma "linguagem essencial", em que cada termo tinha um significado preciso, o que era um alívio, num país (estamos na Itália da época do fascismo) dominado pela retórica demagógica de Mussolini. Era, de novo, a linguagem da ciência opondo-se a uma linguagem oficial inadequada.
Um terceiro exemplo de linguagem inapropriada para a ciência vem-nos do grande físico Richard Feynman, prêmio Nobel de física por seus trabalhos sobre a eletrodinâmica quântica. No trecho a seguir ele conta como seu pai, Melvin Feynman, lhe ensinava ciência, quando menino.
"Tínhamos em casa a Encyclopaedia Britannica . Quando eu era um menino, meu pai costumava sentar-me em seu colo e lia-me textos da Britannica . Podia ser, por exemplo, sobre dinossauros. Digamos, o Tyranosaurus rex . Ele diria: --Este dinossauro tinha 8 metros de altura e sua cabeça tinha uma largura de 2 metros. Então ele parava de ler e dizia:--Vamos ver o que isto quer dizer. Quer dizer que se ele estivesse no nosso jardim, sua cabeça apareceria aqui na janela (estávamos no segundo andar). Mas a cabeça seria grande demais para passar pela janela.
Tudo o que ele lia era traduzido, da melhor forma que podia, em termos reais.
Costumávamos ir às montanhas Catskill, olhar as árvores e os animais. Ali ele me ensinava muito, por exemplo, sobre os hábitos das várias espécies de pássaros que encontrávamos. Como eu conversava, depois, muito sobre o que tinha aprendido, os outros meninos me tomavam por uma espécie de autoridade. Um deles me perguntou, um dia:'Está vendo aquele passarinho? Como se chama?'. 'Não tenho a menor idéia', respondi. E ele: 'É uma corruíra. Teu pai não te ensinou nada!'.
Mas era o oposto. Ele já tinha me ensinado muito mais. Ele já tinha me ensinado que você pode saber o nome de um passarinho em muitas línguas, sem saber absolutamente nada sobre o passarinho. 'O nome não interessa' dizia ele. 'Vamos olhar o passarinho e ver o que ele está fazendo . Isto é o que interessa.' Assim, eu aprendi muito cedo a diferença entre saber o nome de alguma coisa, e conhecer a coisa.'.
Ou, para usar uma expressão cara ao professor Frank Quina, do Instituto de Química da USP, Feynman aprendeu a diferença entre informação e conhecimento.

A lua e os bebês

Fonte: Artigo escrito pelo professor Fernando Lang da Silveira, do Instituto de Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, e publicado originalmente no Vol. 29 da revista Ciência Hoje, de abril de 2001

São muitas as crenças populares que relacionam as fases da Lua com acontecimentos terrenos. Não poderiam faltar aquelas que se referem ao nascimento de bebês. É comum ouvir-se afirmações tais como: "Nascem mais bebês nos dias de mudança de fase da Lua!" ou "Nascem mais bebês na Lua Cheia!" . Recentemente escutei um programa radiofônico no qual uma astróloga usou o seguinte argumento: "Se a Lua é capaz de agir nas enormes massas de água dos oceanos, como ela não teria efeito sobre os líquidos no útero da mãe ou sobre outros fluidos corporais, influenciando no crescimento dos nossos cabelos?" . Sem dúvida, um persuasivo argumento, especialmente para quem desconhece como as marés ocorrem. As pessoas sabem que as marés existem; muitas já as observaram no mar, nunca, porém, em uma bacia ou em um açude.
Desde Isaac Newton (1643 – 1727) sabe-se que as marés são devidas às forças de atração gravitacional da Lua e do Sol sobre a Terra; os efeitos de maré causados pela Lua são um pouco mais do dobro daqueles causados pelo Sol. As marés ocorrem porque o campo gravitacional, que tanto a Lua quanto o Sol exercem sobre pontos diferentes da Terra, é variável em intensidade e orientação. Essa variação se deve ao fato de que o raio da Terra não é desprezível frente às distâncias ao centro de qualquer um dos dois astros. As águas oceânicas, que se estendem por amplas regiões da Terra, acabam sofrendo diferentes atrações gravitacionais pela Lua ou pelo Sol, o que vem a ocasionar as marés. Mas não há efeito de maré em uma região com volume tão pequeno quanto o de uma bacia (ou até mesmo o de um açude), pois distintos pontos dessa região estão eqüidistantes do astro atrator. Da mesma forma, os líquidos no útero da mãe (ou no bulbo capilar) não sofrem efeitos de maré. Adicionalmente, cabe notar que as maiores marés ocorrem em Lua Cheia e em Lua Nova, quando a Lua e o Sol estão quase alinhados com a Terra e a composição das duas forças de maré resulta ser máxima; na Lua Minguante ou na Crescente, as marés são menores. Entretanto, as marés acontecem em qualquer dia e não apenas nos dias das fases principais da Lua (que o vulgo denomina dia da mudança de fase ). Conclui-se então que, se realmente nascessem mais bebês nos dias das quatro fases principais, tal fato não poderia ser atribuído aos efeitos de maré.
A fim de encontrar indícios a favor ou contra a tão difundida crença popular de relação entre nascimentos de crianças e as fases da Lua, utilizei dados dos arquivos sobre candidatos a concursos vestibulares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A partir das datas de nascimento dos candidatos, e com auxílio de tabelas de lunação fornecidas pelo Observatório Nacional, determinei em que dia do mês lunar cada candidato havia nascido. Um total de 93124 datas de nascimento constituem este estudo; 90% desses candidatos nasceram entre 1967 e 1983. Os restantes 10% nasceram entre 1930 e 1967.
O gráfico de barras representa o número de nascimentos nos dias das fase principais da Lua (Nova, Crescente, Cheia e Minguante), bem como nos três dias anteriores (-3, -2 e -1) e nos três dias posteriores (+1, +2 e +3) a cada mudança.
Observa-se no gráfico que o número de nascimentos oscila em torno de 3300 por dia. O extremo superior no número de nascimentos ocorre no dia posterior à Lua Nova (3425 nascimentos); o inferior acontece três dias antes da Lua Cheia (3210 nascimentos). Um teste de significância estatística permite concluir que as diferenças no número de nascimentos ao longo do mês lunar estão dentro dos limites atribuíveis ao acaso ( 2 = 24,93; p = 0,579). Ou seja, não há nenhuma evidência nesses dados de que em algum dia do mês lunar nasçam mais ou menos bebês do que em outro, além das flutuações que podem ocorrer por mero acaso.
Dessa forma, o resultado do estudo contradiz a alegação que nos dias das quatro fases principais da Lua aumenta o número de nascimentos. Serão verdadeiras as outras tantas influências atribuídas à Lua pela sabedoria popular?

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nanomateriais revelam incongruência entre os mundos macro e micro

Fonte: Redação do Site Inovação Tecnológica
Em mais uma descoberta que nos coloca frente à frente com as estranhezas do mundo na escala dos nanômetros, cientistas descobriram que a sílica, um mineral altamente quebradiço, torna-se tão dúctil quanto o ouro quando é cortada na forma de nanofios.

Incongruência
Os resultados, obtidos por físicos do Instituto Nacional de Padronização e Tecnologia dos Estados Unidos, deverá ter grande impacto no projeto das futuras nanomáquinas e dos dispositivos microeletromecânicos e nanoeletromecânicos (MEMS e NEMS).
Esta incongruência entre os mundos macro e micro foi verificada tanto na sílica amorfa, quanto na sílica cristalina.

Ponto de fadiga
Em macroescala, o ponto de fadiga de um material, quando ele se rompe, depende de sua capacidade de manter seu formato quando submetido a uma força. Os átomos das substâncias dúcteis - aquelas que podem ser transformadas em fios - ajustam-se na estrutura atômica e mantêm a coesão por muito mais tempo do que acontece nas substâncias quebradiças.
Estas substâncias quebradiças possuem falhas estruturais, que funcionam como pontos de ruptura quando elas sofrem a ação de uma força externa.
Em nanoescala essas falhas estruturais não existem, o que torna os materiais - de qualquer tipo - quase "perfeitos" estruturalmente. E eles são tão pequenos qua a maioria dos átomos está na superfície do nanofio, sendo capazes de se rearranjar muito mais prontamente, mantendo a integridade do material.

Átomos mais "soltos"
Estar na superfície significa que os átomos não têm ligações com outros átomos de todos os lados, o que lhes dá maior mobilidade. É a predominância desses átomos de superfície que transforma o material quebradiço em dúctil.
"Os termos 'quebradiço' e 'dúctil' são terminologias do mundo macroscópico," explica o pesquisador Doo-In Kim. "Parece que eles não se aplicam em nanoescala."

Nanomateriais pdem causar danos ao meio ambiente

Fonte: Fonte: O Globo Digital por Carlos Alberto Teixeira
Nanotecnologia tem a ver com o controle da matéria na escala atômica ou molecular, lidando com minúsculas estruturas com tamanhos na ordem de um nanômetro, que equivale à milionésima parte do milímetro. Para ficar mais fácil visualizar a pequeninez dessa medida, se o globo terrestre tivesse um metro de diâmetro, uma bolinha de gude teria um nanômetro de diâmetro. Agora, imagine a complexidade tecnológica de desenvolver materiais e dispositivos em escala tão diminuta.
As aplicações da nanotecnologia incluem mecânica, eletrônica, cosméticos, medicamentos, alimentação, biologia, química, engenharia, robótica, física e por aí vai. Mas nem todos os nanomateriais são suspeitos de causar dano à saúde, muito embora alguns sejam sérios candidatos. O primeiro deles é um material cujo nome é quase um palavrão: buckminsterfulereno, apelidado de buckyball ou buckybola. É uma molécula de carbono com formato esférico, lembrando uma bola de futebol.
Pesquisas recentes patrocinadas pelo governo britânico revelaram que buckybolas podem ser nocivas à saúde por fomentarem a produção excessiva de gordura corporal. Outra nanoestrutura bem famosa são os nanotubos de carbono, que em alguns casos são associados ao risco de câncer no pulmão e de mesotelioma, um tipo de câncer usualmente causado por inalação de amianto.
Descobriu-se também que nanopartículas de prata usadas no tecido de meias para reduzir odores desagradávels (leia-se chulé) são eliminadas na lavagem. Como são bacteriostáticas, essas nanopartículas podem destruir bactérias benignas importantes que têm a função de degradar matéria orgânica em usinas de processamento de lixo.
Além disso, um estudo da Universidade de Rochester, nos EUA, descobriu que nanopartículas inaladas por ratos ficaram alojadas no cérebro e no pulmão, elevando os biomarcadores indicativos de inflamação e estresse.
Há também incertezas quanto ao impacto ambiental causado por essas nanoestruturas, o que vem motivando a realização de análises que infelizmente são muito mais lentas do que a velocidade com que surgem as inovações nesse ramo de pesquisa.
De acordo com um relatório da empresa Lux Research ( tinyurl.com/lux-research ), as grandes corporações têm sido os maiores propulsores da comercialização de produtos nanotech, já tendo despendido mundialmente entre US$ 6,6 bilhões e US$ 13,5 bilhões em pesquisa e desenvolvimento. Só este ano a média de gastos das empresas americanas deve chegar a US$ 33 milhões em pesquisa e desenvolvimento em nanotecnologia. A expectativa é que esse total aumente para US$ 39 milhões em 2010.
Poucas grandes corporações, no entanto, vêm tendo sucesso no setor, pois todos os concorrentes ainda estão meio que titubeando quanto às melhores estratégias e estruturas organizacionais a adotar para melhor desenvolver e explorar inovações nanotecnológicas. A pesquisa da Lux entrevistou executivos de 31 multinacionais em três setores da nanotech: manufatura/materiais, eletrônica/TI e saúde/biologia.
Com o surgimento cada vez mais rápido de novos nanomateriais, é possível surjam questões de risco que não poderão ser apreciadas simplesmente tratando-os como misturas de compostos químicos.
Na maioria dos países, a regulamentação ainda é vaga com relação ao uso de nanomateriais e procedimentos envolvendo nanotecnologia em laboratórios e locais de trabalho, e a questões de comercialização e uso de produtos químicos, produtos de consumo incorporando nanopartículas livres, produtos para uso na pele e nos cabelos, além de medicamentos e dispositivos médicos, entre outros materiais.
A criatividade dos cientistas nesse ramo parece não ter limite. Uma equipe de pesquisadores está desenvolvendo uma camisa-geradora, capaz de produzir eletricidade suficiente para alimentar pequenos dispositivos eletrônicos para esportistas, caminhantes e outros usuários cujo movimento físico corporal possa ser convertido em energia elétrica. O invento foi criado no Instituto de Tecnologia da Georgia, nos EUA.

Profissão: Professor - quem está preparado para exercer essa difícil função?

Fonte: Sérgio Choiti Yamazaki, Regiani Magalhães de Oliveira Yamazaki
Divulga-se hoje que Michael Faraday, um dos maiores pesquisadores da história da ciência, foi “nomeado” técnico de um importante laboratório inglês. O que não se divulga, entretanto, é que Faraday não tinha sequer Curso Superior. Sua devoção aos estudos vinha de uma motivação criada quando trabalhava como ajudante em uma loja que vendia livros. Conta-se que Faraday passou a devorar muitos deles nesse tempo, apaixonando-se por duas áreas das ciências: química e física. Em 1912, após assistir a uma palestra de um químico famoso, sir Humphry Davy, presidente da Royal Society entre 1820 e 1827, Faraday organizou anotações e as enviou posteriormente ao próprio Professor Davy. Este, por sua vez, o recomendou ao renomado laboratório da Royal Institution, que acabou recebendo Faraday em 1913. Suas contribuições à humanidade são encontradas até hoje nos livros atuais de Ciências.
Essa não é uma história isolada. Temos evidências de que muitos cientistas foram atraídos para as ciências devido a motivações causadas por ambientes favoráveis ao desenvolvimento de reflexões sobre a vida, valores sociais, ações políticas, paradigmas, estética das ciências etc.
Como ambiente favorável, entendemos qualquer motivação causada pelo que está a nossa volta, como, por exemplo, pessoas (professores, amigos, pais, parentes ...) e objetos (quadros, livros, jogos, salas devidamente decoradas ...).
Nesse sentido, extraordinários investigadores como Einstein, Freud, Darwin, Copérnico, Galileu, só para citar alguns, foram seduzidos impiedosamente ora por pais, ora por parentes, amigos ou professores, para uma eterna reflexão sobre um possível mundo inteligível. Eles ajudaram-nos a compreender melhor a natureza e suas especificidades, pois seus pensamentos formam, hoje, ao lado de muitos outros que contribuíram tanto quanto esses cientistas, artistas, músicos, a base da cultura contemporânea mundial.
Esse foi um dos resultados de um projeto de pesquisa desenvolvido na Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul, que tinha o objetivo de investigar a influência de um Complexo Científico (grosso modo, pode ser definido como ambiente favorável à criação de um motivo para estudos mais aprofundados) nos famosos cientistas que fizeram história.
Em particular, a maioria dos cientistas que fizeram parte de nosso estudo, foi motivada à aprendizagem por ex-professores, às vezes do Ensino Básico, às vezes da universidade.
Através desse olhar biográfico de pessoas que, guiados por forças criadas por motivações externas originadas na relação entre professor e aluno, legitimaram uma busca para dar uma lógica aos fenômenos do universo natural, e fizeram brilhantemente seus trabalhos, deixando-nos paradigmas e experiências exemplares, buscamos lamentar que hoje, depois de tantos projetos em ensino, não só no Brasil, mas no mundo, ainda há profissionais em exercício que acham que o trabalho que visa contemplar um ensino de qualidade movido por diferenciadas teorias pedagógicas, quando não tem seus objetivos completamente atingidos, fracassa devido à inviabilidade de aplicação das teorias, dos métodos, da incapacidade de aceitação do sistema, e o que é pior, dos alunos. Mas nunca um trabalho que precisa cada vez mais, num mundo fortemente capitalista e como nunca, influenciado pelas mídias, de profissionais capacitados, que estejam em permanente formação e que saibam aplicar as teorias, depois de muitos erros e acertos, idas e vindas, num processo contínuo de reformulação dos métodos.
Claro que há problemas sociais, políticos, econômicos, que influenciam diretamente a vida dos alunos. E é exatamente por isso que se faz necessário repensar as estratégias didáticas, os modelos pedagógicos, as novas propostas de ensino. Por exemplo, há trabalhos inspirados em analogias entre o trabalho do psicanalista e dos professores, que sugerem conquistar alunos, mostrando que na escola também há coisas interessantes, e que ela pode oferecer um futuro cheio de vitórias. Nesse sentido, é preciso sensibilizá-los através do compromisso que temos com eles.
Podemos já contar com um bom número de trabalhos, teses e dissertações que se usaram de teorias da personalidade para planejamentos didático-pedagógicos. Há inúmeras publicações em revistas nacionais e internacionais que relatam experiências promissoras de uso de sistemas inovadores na prática do professor, que deram aos aprendizes, suporte teórico e motivacional para prosseguimento em estudos mais avançados.
São nos cursos de Formação Continuada que esses resultados são divulgados. Há inclusive cursos que oferecem bolsas para professores em exercício, como acontece, por exemplo, em um Projeto coordenado pelos professores Alberto Villani e Jesuína Lopes de Almeida Pacca, na Universidade de São Paulo.
Através de eventos e congressos de extensão, como o Congresso Brasileiro de Extensão Universitária (CBEU) – que aconteceu na UFSC, em 2006 – e o Seminário de Extensão Universitário da Região Centro-Oeste (SEREX-CO) – que aconteceu na UFMS, em Campo Grande, nesse ano, também são divulgados trabalhos de inovações tecnológicas, didáticas e pedagógicas; experiências de ensino que se mostraram potencialmente hábeis em provocar mudança no perfil cognitivo do aprendente.
A própria Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC- tem como objetivo divulgar a ciência, para mostrar que vale a pena investir no pesquisador; neste caso específico, no pesquisador em Ensino ou da Educação. O fato é que muitos educadores não sabem que há pesquisadores em Ensino. Acham que ensino é para sala de aula, e só. Que não há necessidade de um trabalho maior de contemplação das teorias, dos estudantes, do mundo; a sala de aula é parte desse todo.
Ensinar não é para todos, apenas porque resolveram se tornar professores. Ensinar é para quem desenvolveu no seu íntimo um compromisso com a arte de educar, com a arte de escapar de subjetivações sempre inerentes a esse processo, considerando-as na ótica de teorias aceitas pelas sociedades científicas ou em processo de análise (quando há revoluções científicas).
Como demonstrou Faraday, não é preciso de diploma para que seja um bom cientista. Na educação não pode ser diferente. O mais importante é a leitura atenta de referenciais teóricos que dão suporte ao trabalho como docente, em qualquer nível de ensino. Não podemos achar que nossas experiências cotidianas como ex-alunos, são suficientes para que sejamos bons professores. Precisamos conhecer nossos alunos, novas propostas de estratégias de ensino, novos paradigmas da educação, relatos de experiência de professores; precisamos participar de eventos, contribuir com novos resultados, trabalhar em conjunto. Precisamos, pois, ler, estudar ..., e sempre.
No entanto, acima de tudo, a relação entre professor e alunos deve ser sempre guiada por boa relação afetiva. Nenhum método pode dar certo quando inserido numa relação desgastada, sem boa afetividade. Um método pode ser potencialmente aplicável quando os indivíduos nele inseridos não possuem desgaste emocional com as relações entre as pessoas desse meio, pois caso contrário, poderá haver demasiado consumo de energia em processos subjetivos, pelos aprendizes, que poderia ser usada pela cognição.
Essa semana, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgou o resultado do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), no qual consta que o Brasil, em meio a cinqüenta e sete países, está entre os piores do mundo em educação. Este é o reflexo de falta de investimento sério, por parte dos vários governos que tivemos, no qual se inclui sem dúvida alguma, melhores salários. Nos países que se encontram nos primeiros lugares, professores têm salários dignos e são “milagrosamente” respeitados pela população.
Portanto, não são as teorias pedagógicas ou metodologias de ensino que não funcionam. É a falta de seriedade, aliada à falta de competência, de formação adequada, de formação continuada.
Claro que há muitos educadores sérios, compromissados, que fazem leitura corretamente contextualizada da educação no Brasil. Somos a resistência do descaso.
Afinal, quando algo não vai bem, trabalhamos para melhorá-lo e lutamos por mudança, ..., ou deixamos de fazer nossa parte?
Contudo, inspirados na leitura da pesquisadora e psicanalista, Leny Magalhães Mrech (através de artigos e livros), percebemos que há dois tipos de profissionais: aquele que “não sabe e tem raiva de quem sabe”, ou seja, aquele que desconhece o próprio conteúdo que deveria ensinar em meio a um processo pedagógico, e aquele que “sabe que não sabe”, ou seja, o professor que percebe que precisa estudar mais, ler mais, para mudar, sempre freqüentando cursos e atualizando seus conhecimentos, contemplando o que um exemplar professor da Sorbonne já dizia: “professor sempre tem que voltar à escola” (Bachelard). É interessante lembrar que, apesar de ser conhecido como professor da famosa Universidade de Paris, Bachelard foi professor no Ensino Básico por vinte anos.
A escola de Bachelard, para a qual o professor tem que voltar, é a escola da inovação. A ludicidade e o uso de recursos multimídia em sala de aula, por exemplo, são propostas que demonstraram, quando aplicados em sala de aula, os melhores resultados com relação à aprendizagem e certa mudança cognitiva nos alunos. Muitas outras sugestões foram nos últimos anos, principalmente nesta década, publicadas em anais de congressos, revistas especializadas ou divulgadas em cursos de extensão.
Portanto, para conhecê-las, é preciso, de fato, retornar à universidade, à sala de aula. Pois nosso maior instrumento de trabalho, é a reflexão, o pensamento, o uso de nossa capacidade de imaginar relações, de divagar, de devanear. A experiência, mesmo que muitas vezes amarga, deve ser fonte, e não ausência de possíveis interpretações pedagógicas.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

9 maneiras de ser um professor mais eficiente

Texto: Brasílio Neto - Revista Profissão Mestre
1. SÃO OS ALUNOS QUE IMPORTAM - Alguns professores sentem-se extremamente orgulhosos de seus cargos. E dá até para entender a razão. Afinal, são anos e anos de pesquisas e estudos para estar ali, naquela sala de aula. E agora aqueles alunos seriam os sortudos que iriam beber da sabedoria dele por todo ano letivo. Aqueles que pensam assim estão construindo uma imensa barreira entre eles, os estudantes e o aprendizado. Os melhores mestres vêem a si mesmos como guias. Eles compartilham o que sabem, porém entendem que eles não são o foco principal daquela sala de aula. Seus discípulos o são. Não se deve perguntar "o que eu vou fazer hoje", mas sim "o que eu espero que meus alunos façam/aprendam hoje". O planejamento do dia fica muito mais fácil.
2. ESTUDE OS ESTUDANTES - Imagine um professor entrando em sala de aula dizendo: - Bom, abra seu livro na página... na página que vocês encontrarem essa matéria. Nada pior para a imagem, não é mesmo? Se é importante conhecer o material didático, imagine entender seus alunos. Que, ao contrário dos livros, não são feitos em série. Cada um possui uma particularidade, algo que o faz único. É fácil imaginar que é complicado descobrir o que cada um deseja, o que motiva seus estudantes. Mas faça uma analogia. Imagine que um amigo que mora longe lhe telefona. Ele diz que está em sua cidade e quer fazer-lhe uma visita, como se chega em sua escola? Qual a pergunta que você faz nessa situação? - Você está perto do quê/em que rua? Logo em seguida, pergunta se ele está a pé ou de carro. A partir daí, pode indicar o caminho certo para se encontrarem. Da mesma forma, seus alunos. Se você quer que eles tenham aprendido alguma coisa no final do ano, primeiro descubra onde estão, quais os recursos que possuem.
3. SE VOCÊ QUER QUE ELES SE ARRISQUEM, OFEREÇA SEGURANÇA - Parece estranho, mas aprender pode ser uma atividade desconfortável. Os discentes têm que descobrir o que eles não sabem, jogar fora muito daquilo que eles achavam que sabiam. Por isso, crie um ambiente de segurança. Iluminação e cores corretas ajudam, além de diversos outros detalhes ao alcance do professor: A - Decore as paredes com os trabalhos dos alunos, ou fale sempre nos exemplos e nos casos que eles trazem para sala. A idéia é fazer com que a sala de aula seja um lugar que pertença a eles, alunos.B - Da mesma maneira, crie um pequeno ritual para início de aula. Pode ser algo simples, como entrar e dar bom dia de determinada maneira, ir até um ponto da sala e sorrir. Com isso, os alunos percebem, inconscientemente, que eles estão em terreno conhecido e que não há o que temer.
4. VULNERABILIDADE NÃO COMPROMETE A CREDIBILIDADEUm professor não precisa ter todas as respostas. Se você disser "eu não sei", isso não significa que sua classe vai acreditar menos em você. Ao contrário, seus alunos irão admirá-lo ainda mais.
5. REPITA OS PONTOS IMPORTANTESO norte-americano William H. Rastetter foi professor da Universidade de Harvard antes de ser chamado para dirigir uma grande empresa. Ele passa uma regra para seus colegas: "A primeira vez que você diz alguma coisa, as pessoas escutam. Se você fala uma segunda vez, as pessoas reconhecem aquilo; e se você fala uma terceira vez, elas aprendem." O desafio é fazer isso de forma que você não se torne chato ou repetitivo. Mude as palavras, passe conceitos através de exercícios e experiências. Use sua criatividade.
6. BONS PROFESSORES FAZEM BOAS PERGUNTASFazer perguntas que se respondam com "certo" ou "errado" não estimula uma boa discussão em sala de aula. Procure fazer perguntas abertas. Por que isso funciona assim? Qual a razão dessa reação/atitude? E se fizéssemos de outra maneira?
7. ESCUTE MAIS DO QUE FALAAo lecionar, aquilo que você faz é tão importante quanto aquilo que você diz. E escutar o que seus alunos têm a dizer significa que você se importa com eles, que leva em consideração as idéias da classe. Permita momentos de silêncio em sala de aula, eles significam que o conhecimento está sendo processado. E lembre-se, nem sempre seus alunos se comunicam por palavras. Fique atento aos sinais não escritos, como olhares, movimentos, entre outros.
8. PERMITA QUE OS ALUNOS ENSINEM ENTRE SIVocê não é a única fonte de conhecimento disponível a seus alunos. Eles também aprendem entre si. Uma turma de alunos funciona como um triângulo de aprendizado, no qual o professor é apenas um vértice. Use essa força a seu favor. Dê a seus alunos pequenos textos, e peça que eles o interpretem entre si para responder uma questão. Naturalmente eles escutam mais uns aos outros para encontrar a solução mais adequada.
9. PAIXÃO E PROPÓSITOO que faz a diferença entre um bom professor e um excelente professor não está nos cursos feitos. Não aparece nas teses defendidas nem nas pesquisas feitas. Independe dos anos de profissão. É a paixão pelo lecionar, por estar ali, todos os dias. É algo que contagia os estudantes e que não pode ser fingido.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Como estudar Física

Existem, basicamente, três tipos de alunos para a Física:
- aqueles que não cultivam nenhuma admiração, no entanto, precisam estudar para a prova;
- aqueles que embora não pretendam seguir uma carreira de Exatas, cultivam uma simpatia acima da média;
- e, por fim, aqueles que realmente pretendem seguir carreira na Física ou em área a ela relacionada.
Cada um destes três grupos possui características que lhe são bem peculiares, necessitando de métodos específicos para os objetivos a serem atingidos. Não é à-toa que existem cursinhos específicos de alta qualidade que simplesmente fazem um estrondoso sucesso.Vamos , porém, procurar, de forma generalizada, citar alguns conselhos indispensáveis para quem quer ou precisa estudar Física. Condições básicas como um bom lugar para estudo, boa alimentação, qualidade de vida e local adequado, vamos considerar que já sejam supridas.Vamos ao assunto, enumerando (na medida do possível) os itens:
1 - Faz-se necessário que se tenha uma boa bibliografia para consulta. Consultar o mesmo assunto segundo explicações diferentes habilita-nos a visualizá-lo de diferentes formas. Duas situações podem ocorrer: você conseguirá esclarecer pontos ainda duvidosos e (ou) reforçar conceitos já assimilados, abrindo a porta para que seu cérebro possa assimilar o conteúdo da forma mais simples possível;
2 - Em sala de aula ou mesmo como auto-ditadata é muito válido que se tome notas e resumos sobre assuntos que se julguem necessários. Estas notas podem ser para que não venhamos nos esquecer sobre algum conceito ou, ainda, para que futuramente possamos esclarecer ou explorar melhor algum ponto que possa ser melhor compreendido;
3 - Estudar com regularidade em horários e cargas previamente definidos. Desta forma evita-se o acúmulo de dúvidas bem como se permite que entremos em intimidade com o assunto que passará a ser visto com maior familiaridade, facilitando a abstração do conteúdo;
4 - Boa base matemática. A Física é explicada quase sempre através de fórmulas matemáticas. As equações (sistemas de equações) em especial são sempre exploradas desde o início do estudo em Cinemática, por exemplo. Suponhamos que você queira saber os instante do encontro de dois móveis que se movimentem em sentido contrário numa mesma estrada. De nada adianta conhecer os conceitos se você não compreender que se deve igualar (resolver) as respectivas equações do movimento;
5 - Entender que a Física possui determinados tópicos, os quais devem ser estudados em seus diferentes capítulos na seqüência mais lógica possível, objetivando facilitar a compreensão e o desenrolar do conteúdo de forma mais natural. O crescimento da complexidade do assunto (dentro do tópico) ficará muito mais fácil de ser assimilado. Perceba que com conceitos básicos de movimento uniforme se torna muito mais fácil a compreensão do movimento uniformemente variado e com este se torna simples estudar lançamento de projéteis, no entanto, se quiséssemos aplicar a ordem inversa no aprendizado a assimilação dos conteúdos ficaria muito mais difícil;
6 - Resolver exercícios com frequência para colocar à prova a parte teórica. Além de servir para a fixação do conteúdo estudado, durante a resolução de problemas podemos diagnosticar falhas no aprendizado e ampliar o conhecimento através do esforço e criatividade mental. Resolver de forma correta um exercício é consequência de muita prática e disto trataremos em outro post;
7 - Ter consciência de que nossa mente funciona como um poderoso banco de dados e sempre que uma situação-problema nos é apresentada ela procura um modelo que possa ser comparado e sirva como base para a resolução. Por isto procure abstrair o maior número de “Exercícios Modelos”, certamente eles serão a “luz no fim do túnel” quando você se deparar com aquelas questões escabrosas da Física;
8 - Estar ciente de que, em geral, ciências exatas, em especial a Física, requerem persistência e muita força de vontade. Ter objetivos e metas a serem atingidos fazem do estudo uma verdadeira aventura.
Lembre-se: O desafio de aprender nunca se acaba!Existem pessoas que estudam em silêncio, outras com música... Sentados ou em pé. O mais importante é que seja uma condição que lhe propicie um equacionamento entre conforto físico e mental. É altamente recomendável que você estude em condições que lhe permitam o melhor estado de concentração possível.
Existe muito mais a ser dito sobre como estudar, em especial a Física, no entanto, as bases são estas.
Sucesso!!!